Em 1981, eu era vereador  em Dourados e preparava minha candidatura a deputado estadual pelo PDS,  nas eleições de 1982. Estava muito preocupado, já que seria a primeira e  única eleição com votos vinculados na história recente do país.  Significava a última cartada do regime militar para tentar continuar no  poder, pois o MDB estava em crescimento em todos os estados  brasileiros, tanto é que naquele ano elegeu 22 dos 24 governadores de  estados. 
O voto vinculado exigia  que o eleitor escolhesse os candidatos do mesmo partido, de governador a  vereador. O Braz Melo seria o nosso candidato a prefeito do PDS-2,  tendo como vice Fredis Saldivar. Tínhamos então que escolher uma chapa  de vereadores forte que pudesse nos ajudar a chegar à Prefeitura e  Assembléia Legislativa. Então fomos à luta e encontramos os seguintes  nomes: Antonio Norecy, Osvaldo Bazé, Zé Braga, Vitório Pederiva e  Erisvaldo Mendonça (eleitos), além de Eduardo Laier, Ono, Iracy,  Gilberto Orlando e Zé Pereira, entre outros.
O Zé Pereira era mais  conhecido como Zé Ligeirinho, de tão velhaco que era, mas uma figura  espetacular, principalmente por ser pai-de-santo num terreiro no Jardim  Água boa. Não trabalhava na política. Durante o dia ficava numa banca de  carteado e à noite no terreiro. A maioria dos auxílios angariados para a  campanha de nossa chapa tinha que ser para ele, pois exigia e ameaçava  os nossos candidatos a vereadores com um “bom despacho”, ameaçando que se assim não fosse, iria derrotá-los através de “saravá”. 
No meio da campanha  eleitoral começamos a notar a desistência de alguns postulantes a  vereadores em favor da candidatura do Zé Ligeirinho. Procuramos saber  dele o razão e ele alegava ser a vontade dos candidatos. Não fiquei  satisfeito com a resposta, mandei um olheiro ir até ao terreiro para  saber o que se passava. Não deu outra: o Ligeirinho recebia o espírito  do “Zé Pilintra” e dizia horrores aos concorrentes (presentes no  terreiro) do seu “cavalo”. Exigia a desistência e o voto a Ligeirinho sob pena de sofrerem um grave acidente. 
Um dos nossos candidatos a  vereador era o radialista Gilberto Orlando, na época um popular locutor  de rádio. Como tínhamos poucos recursos resolvemos coloca-lo como  apresentador dos comícios, aliando assim, o útil ao agradável, ou seja,  não teríamos despesas e o Gilberto ganharia espaço. No primeiro comício  na rua Bahia, o Zé Ligeirinho criou o maior barraco, querendo proibir o  “Gilbertão” de ser o apresentador, mas não abrimos mãos. 
No final do comício,  atrás do palanque, Zé Ligeirinho avisou o Gilberto que naquela noite  iria fazer um trabalho no “terreiro” para o radialista perder a voz e  nunca mais  voltar a falar. O  Gilberto Orlando, acreditem, só apresentou o comício daquela noite, pois  perdeu a voz e não pode mais falar em comício algum durante toda a  campanha. 
No final da campanha, as  urnas derrotaram Braz Melo e Gilberto Orlando. O Zé Ligeirinho, claro,  ficou na segunda suplência. Eu me salvei sendo eleito deputado estadual e os companheiros: Osvaldo Bazé, Antonio Norecy, Erisvaldo Mendonça, Zé Braga e Vitório Pederiva para a Câmara Municipal.
 
 
 
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