quinta-feira, 2 de junho de 2011

ZÉ LIGEIRINHO E O RADIALISTA GILBERTO ORLANDO NO SARAVÁ

Em 1981, eu era vereador em Dourados e preparava minha candidatura a deputado estadual pelo PDS, nas eleições de 1982. Estava muito preocupado, já que seria a primeira e única eleição com votos vinculados na história recente do país. Significava a última cartada do regime militar para tentar continuar no poder, pois o MDB estava em crescimento em todos os estados brasileiros, tanto é que naquele ano elegeu 22 dos 24 governadores de estados.
O voto vinculado exigia que o eleitor escolhesse os candidatos do mesmo partido, de governador a vereador. O Braz Melo seria o nosso candidato a prefeito do PDS-2, tendo como vice Fredis Saldivar. Tínhamos então que escolher uma chapa de vereadores forte que pudesse nos ajudar a chegar à Prefeitura e Assembléia Legislativa. Então fomos à luta e encontramos os seguintes nomes: Antonio Norecy, Osvaldo Bazé, Zé Braga, Vitório Pederiva e Erisvaldo Mendonça (eleitos), além de Eduardo Laier, Ono, Iracy, Gilberto Orlando e Zé Pereira, entre outros.
O Zé Pereira era mais conhecido como Zé Ligeirinho, de tão velhaco que era, mas uma figura espetacular, principalmente por ser pai-de-santo num terreiro no Jardim Água boa. Não trabalhava na política. Durante o dia ficava numa banca de carteado e à noite no terreiro. A maioria dos auxílios angariados para a campanha de nossa chapa tinha que ser para ele, pois exigia e ameaçava os nossos candidatos a vereadores com um “bom despacho”, ameaçando que se assim não fosse, iria derrotá-los através de “saravá”.
No meio da campanha eleitoral começamos a notar a desistência de alguns postulantes a vereadores em favor da candidatura do Zé Ligeirinho. Procuramos saber dele o razão e ele alegava ser a vontade dos candidatos. Não fiquei satisfeito com a resposta, mandei um olheiro ir até ao terreiro para saber o que se passava. Não deu outra: o Ligeirinho recebia o espírito do “Zé Pilintra” e dizia horrores aos concorrentes (presentes no terreiro) do seu “cavalo”. Exigia a desistência e o voto a Ligeirinho sob pena de sofrerem um grave acidente.
Um dos nossos candidatos a vereador era o radialista Gilberto Orlando, na época um popular locutor de rádio. Como tínhamos poucos recursos resolvemos coloca-lo como apresentador dos comícios, aliando assim, o útil ao agradável, ou seja, não teríamos despesas e o Gilberto ganharia espaço. No primeiro comício na rua Bahia, o Zé Ligeirinho criou o maior barraco, querendo proibir o “Gilbertão” de ser o apresentador, mas não abrimos mãos.
No final do comício, atrás do palanque, Zé Ligeirinho avisou o Gilberto que naquela noite iria fazer um trabalho no “terreiro” para o radialista perder a voz e nunca mais  voltar a falar. O Gilberto Orlando, acreditem, só apresentou o comício daquela noite, pois perdeu a voz e não pode mais falar em comício algum durante toda a campanha.
No final da campanha, as urnas derrotaram Braz Melo e Gilberto Orlando. O Zé Ligeirinho, claro, ficou na segunda suplência. Eu me salvei sendo eleito deputado estadual e os companheiros: Osvaldo Bazé, Antonio Norecy, Erisvaldo Mendonça, Zé Braga e Vitório Pederiva para a Câmara Municipal.

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